Jonas, os professores e uma outra evasão escolar

on domingo, 29 de setembro de 2013
"A palavra de Javé foi dirigida a Jonas, filho de Amati, ordenando: "Levante-se e vá a Nínive, a grande cidade, e anuncie aí que a maldade dela chegou até mim". Jonas partiu, então, com intenção de escapar da presença de Javé, fugindo para Társis. Desceu até Jope e aí encontrou um navio de saída para Társis. Pagou a passagem e embarcou, a fim de ir com eles até Társis, para escapar assim da presença de Javé."
(Jonas 1:1-3)

O livro de Jonas é de fato muito interessante, até mesmo para quem não é cristão, ele conta a história de um profeta (que ao contrário da crença popular não é uma espécie de magico que advinha o futuro, o profeta é quem deseja colocar a sociedade de volta nos trilhos através da denuncia dos erros e do anúncio da verdade. Uma ótima descrição do que é ser um profeta está na música do Pe. Zezinho, SCJ http://www.vagalume.com.br/padre-zezinho/manda-profetas.html ) que tenta fugir do seu chamado, abandonar a sua vocação que Deus lhe havia dado.

Mesmo que por motivos completamente diferentes, hoje, vemos uma preocupante evasão nas escolas, só que não estou falando da evasão de alunos e sim de professores. Vários professores são obrigados a fugir daquele chamado que receberam quando decidiram dedicar anos de estudos e esforços contínuos por sentirem que não dá mais para continuar. Triste situação a nossa de tantas vezes tentarmos olhar para o céu e perguntar a Deus o que fez com que ele nos deste essa complicada vocação, tão complicada que por vezes você acaba tendo que ser profeta e se não tomar cuidado acaba virando mártir. (Isto é o que pensa o professor que é religioso, o que não é deve pensar onde ele estava com a cabeça de ter escolhido esta carreira.)

Imagine que eu lhe faça a oferta para se matar de estudar por anos para encarar uma tarefa que naturalmente é estressante e que você não vai receber a menor estrutura para trabalhar, falando em receber o salário será muito inferior ao que o mercado paga aos seus amigos que não se esforçaram a metade do que você se esforçou. Tal oferta tão ruim ainda é piorada pela pressão e assédio constantes que você irá sofrer e para fechar com chave de ouro nem vão reconhecer o quanto esta oferta é no mínimo cretina.

Pois é não é de se estranhar que hoje quase metade dos nossos professores, tal como Jonas, não querem seguir a vocação para a qual eles nasceram e que é tão importante para a sociedade. A diferença é que o profeta Jonas não queria fazer o que tinha que fazer apenas por não querer ajudar o povo de uma cidade que ele detestava, no nosso caso os professores desistem pois tudo o que o Estado (e a Sociedade por trás dele) faz é inviabilizar o magistério em todos os aspectos até tornar a situação insustentável e o professor ou desiste de tudo ou enlouquece de vez. Cansa ver tanto descaso, tanto desvio de verba, tanta hipocrisia e perseguição contra os profissionais da educação. Um dia cansa você ver que a merenda não chega e que os professores tem que fazer um rateio entre si para que alunos carentes não passem fome na escola.


Seguem algumas notícias falando do assunto:
http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/195/adeus-docencia-292321-1.asp
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-evasao-no-magisterio-publico-,1070635,0.htm
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1392135&tit=Evasao-em-licenciatura-chega-a-39

Termino com essa postagem com a reflexão de até quando aceitaremos o descaso com a educação que faz com que muitos dons e talentos se percam e que várias pessoas que poderiam estar fazendo a diferença em nossa sociedade acabam por desistir de tudo. É isso que queremos? Que sociedade vai surgir deste descaso?


OBS.: Apesar de em vários momentos eu já ter me questionado muito e o desânimo ter falado muito alto, eu sempre tentei manter firme em minha mente que a minha motivação é maior e que se eu tenho essa vocação eu devo usar ela da melhor maneira o possível custe o que custar mesmo que isso por vezes me prejudique bastante. Já que não estou aqui para brincadeira então só me resta lutar e continuar este trabalho no blog que visa ser profético (pela denúncia e pela esperança que pretende avivar nos corações de outros colegas) mas que também abre brechas para o martírio (a represália é sempre uma possibilidade para os que não se conformam com os erros de nossa sociedade.). E vamos à luta! (http://letras.mus.br/gonzaguinha/259335/)

Intolerância nas escolas

on domingo, 22 de setembro de 2013
Uma das situações mais tristes que pude viver em sala de aula foi quando ao ser solicitado pela escola para elaborar um trabalho que deverá ser apresentado em uma feira integrada na escola que trabalho no município de Queimados / RJ.
Bem já que minha formação é em Geografia e minha linha de pesquisa sempre foi em Geografia Cultural/Geografia das Religiões pensei em montar uma forma das turmas trabalharem o tema de "Tolerância e Liberdade Religiosa: Por uma Cultura de Paz", mas para meu espanto muitos alunos se recusavam até a escrever o nome de outras religiões (especificamente Umbanda e Candomblé) em seus cadernos em um texto sobre tolerância religiosa. Isso não é novidade, vide uma notícia já bem antiga:
http://acritica.uol.com.br/noticias/Amazonas-Manaus-Cotidiano-Polemica-alunos-professores-trabalho-escolar-afro-brasileiro-evangelicos-satanismo-homossexualismo-espiritismo_0_808119201.html

Ainda tentei explicar aos alunos como cristão que estudar e/ou respeitar algo não significa que você esteja se tornando adepto daquilo e tudo o mais, porém não deu muito resultado. Alguns alunos alegavam inclusive que por eles não teriam problema mas eles tinham até medo de falar sobre isso com os pais. Ao contrário do que muitos podem imaginar não haviam só evangélicos entre os alunos (e nem todos os evangélicos se incomodaram), na verdade estamos em uma era de fundamentalismo religioso em vários segmentos.
Por isso sempre defendi que aulas não-confessionais de ensino religioso (Sem puxar sardinha para nenhuma religião mas focando na história, geografia, enfim nas ciências da religião em geral) seriam importantíssimas para a cultura de tolerância nas escolas e consequentemente na sociedade como um todo, afinal já que muitas vezes o aluno não tem outro ambiente que o ensine a pensar de uma forma tolerante a escola assumiria tal função visando a manutenção de uma sociedade democrática.

Vale lembrar que o fundamentalismo religioso tem preocupado inclusive organizações religiosa:
http://www.paroquiadainclusao.com/site/?p=14133

Quanto ao que eu fiz em sala de aula? Bem com certeza eu não desisti e em breve poderei falar melhor dos resultados.

Rio de Janeiro: Cemitério de escolas

on quarta-feira, 18 de setembro de 2013
"Pai de todos nós, pedimos-te por aqueles a quem amamos e que já não vemos. Concede-lhes tua paz. Que tua luz perpétua brilhe sobre eles e, em tua amorosa sabedoria e poder infinito, opera neles os santos desígnios de tua perfeita vontade, por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém"
Livro de Oração Comum da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil

Como professor, cidadão, como quem já foi aluno eu hoje só poderia começar meu post com uma oração fúnebre. Sim, tal como dizia Cazuza "Meus inimigos estão no poder", que o (des)governador Sérgio Cabral nunca se preocupou com os valores republicanos, com o povo fluminense (sim, fluminense pois carioca é quem nasce na cidade do Rio de Janeiro e fluminense quem nasce no Estado do Rio de Janeiro) e com a educação menos ainda. Mas hoje lamentavelmente vemos um Serial Killer nos governando. Um Serial Killer que já matou mais de 50 escolas do Estado do Rio de Janeiro e está pronto para fechar mais e mais. E nós? O que estamos fazendo? O que vamos fazer? Aguardar não termos mais escolas públicas em nosso Estado?

http://www.jb.com.br/rio/noticias/2013/05/21/mp-investiga-fechamento-de-49-escolas-especialista-critica-decisao-do-governo/

Enfim, será que o Governo do Estado do Rio de Janeiro faz algo além de fechar escolas, prender manifestantes e mentir publicamente? ( http://www.seperj.org.br/ver_noticia.php?cod_noticia=4623 )

Pois é amigos leitores, não bastando a situação que enfrentamos diariamente nas escolas, os péssimos salários, vagas de professores que o governo não preenche, péssimas condições de trabalho, agora além de tudo teremos a redução absurda no número de escolas (talvez para justificar as turmas superlotadas que nossos políticos tanto amam). Ao invés de aumentar o número de escolas, para reduzir o número de alunos por turma e melhorar a aprendizagem, o governo opta por matar (e matar em série) as escolas em um verdadeiro crime contra a humanidade (sim, pois toda a humanidade sofre, ou deveria sofrer diretamente, por aqueles que não tem acesso a uma educação de qualidade).

Kyrie Eleison! (Senhor, tende piedade [de nós]!)

Um exército de feridos

on sexta-feira, 13 de setembro de 2013
Vou abrir uma brecha neste blog para tratar de um assunto que não é tão relevante mas ao mesmo tempo é bastante relevante para a educação.
Existe uma frase que eu desconheço o autor que diz: "A Igreja é o único exército que deixa seus feridos para trás.", Infelizmente sou forçado a discordar desta frase e dizer que não é apenas a Igreja que deixa seus feridos para trás.

A Igreja, a Maçonaria e as ordens paramaçônicas, os partidos, as escolas e tantas outras instituições abandonam seus feridos (às vezes sem perceber ou sem saber o que fazer com eles), na maior parte das vezes na inocência, mas mesmo assim não conseguem reabilitar adequadamente seus membros que ficaram decepcionados, feridos, desgostosos.

Vale ressaltar que não estou falando dos amotinados interessados em gerar destruir tudo ou nos "criadores de caso" que apenas estão preocupados com seus próprios interesses. Eu falo daqueles fiéis e sinceros membros que se dedicaram (ou ao menos acreditaram) ao máximo nos ideais mas (ás vezes até por falta de discernimento e/ou maturidade suficiente) não conseguiram entender que em todos os locais existem "frutas podres" e que todos os locais precisam que as pessoas estejam firmes nos ideais justamente para evitar a proliferação da corrupção ideológica/institucional e combater (ou se possível converter) os maus elementos internos.

Mas e na escola? Na escola a situação não é muito diferente. Não conheço um professor por mais linha dura que seja (não disse que não existem, mas apenas que não os conheço) que não se sente mal, desiludido, decepcionado, frustrado quando um aluno não consegue aprender adequadamente, quando um aluno tira notas baixas, repete ou simplesmente abandona a escola. O dia-a-dia da escola (e em especial os períodos de avaliações) nos coloca em um dilema muito complexo: De um lado o paternalismo escolar tão incentivado pelo governo e certos "gurus da educação" que querem apenas dizer que todos estão passando mesmo sem nada aprenderem e do outro lado o rigorismo pedagógico que nasce nos corações de muitos professores como reação ao paternalismo escolar e também pela pressão dos concursos. Achar um equilíbrio adequado é uma tarefa ingrata, sem fórmulas prontas e que quase nunca é bem vista.

Mas então qual é a solução? Estou longe de querer me achar superior ao resto da humanidade e trazer soluções prontas para problemas filosóficos tão complexos. Mas é fato que esse problema dos que se perdem no caminho é um problema urgente dentro e fora do âmbito escolar e que infelizmente quase ninguém sabe o que fazer adequadamente. Que tal começarmos a refletir e debater isto nas diversas instituições que participamos?

Chegamos ao absurdo!

on segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Sim, o mundo está de cabeça para baixo, o poste mija no cachorro e vivemos como na famosa piada da "Reversal Russa". Não quero parecer um senhor idoso saudosista mas sou da época em que os canalhas ao menos fingiam serem pessoas decentes, em que políticos corruptos fingiam sua honestidade e enganavam os outros que eram honestos, ditadores gostavam de parecer democráticos.

Todos já ouviram falar de professores (ou outras categorias) fazerem protestos por melhorias para este povo tão sofrido, mas já ouviram falar de prefeitos e vereadores fazendo protestos contra professores que passaram a semana se dedicando ao trabalho árduo e até ao trabalho extra-classe e voluntariamente foram trabalhar em um sábado que era FERIADO? Pois é, os canalhas agora se orgulham disto publicamente e assumem que não respeitam a o serviço público e nem os valores republicanos, humilham e ofendem publicamente os professores que estavam POR AMOR (pois se depender das condições de trabalho e do salário que é um verdadeiro ato de vandalismo acho que ninguém aceitaria).

Sabe, no passado ao menos eles faziam questão de fingir que nos respeitavam, agora ao menos a máscara cai diante da população mas não sei se minha mente consegue conceber esta afronta tão grande.

Agora fica a questão. Aqueles professores estavam TRABALHANDO e o que o prefeito e os vereadores fizeram se trata de CRIME (artigo 331 do Código Penal) e isso sem contar nos DANOS MORAIS sofridos por estes educadores. E aí Ministério Público? A denúncia já foi feita com o número: 253281 mas vale a pena que todos os demais possam fazer o mesmo.

Discute-se tanto sobre respeito aos professores por parte de alunos, diretores, sociedade mas quando nem um prefeito e vereadores se quer dão ao trabalho de fingir que respeitam aí definitivamente o poste já urinou no cachorro para marcar território.

Será que vamos inaugurar a "REVERSAL NOVA IGUAÇU"? "Onde o prefeito desacata você em protestos"... Para quem lembra do Orkut só posso dizer que a Sorte de Hoje é "Você não trabalha para o Nelson Bornier" ou "Nelson Bornier não é o seu prefeito". Se bem que ter Eduardo Paes como prefeito não é vantagem, mas isso fica para uma outra postagem...

Nota de Repúdio do SEPE de Nova Iguaçu:
http://www.seperj.org.br/ver_noticia.php?cod_noticia=4558

Desabafo Conscientizador

on quarta-feira, 4 de setembro de 2013
"De novo olhei e vi toda a opressão que ocorre debaixo do sol:
Vi as lágrimas dos oprimidos, mas não há quem os console; o poder está do lado dos seus opressores, e não há quem os console. Por isso considerei os mortos mais felizes do que os vivos, pois estes ainda têm que viver! No entanto, melhor do que ambos é aquele que ainda não nasceu, que não viu o mal que se faz debaixo do sol.
 Descobri que todo trabalho e toda realização surgem da competição que existe entre as pessoas. Mas isso também é absurdo, é correr atrás do vento." Eclesiastes 4:1-4
Já faz algum tempo que eu desejava criar um blog, algo despretensioso mas ao mesmo tempo muito pretensioso, algo como um desabafo conscientizador. Mas seria apropriado a temática deste blog começar com uma passagem bíblica por mais que eu seja um cristão praticante? Sim, especialmente no caso desta passagem.

O Livro do Eclesiastes é um livro que tradicionalmente era atribuído ao rei Salomão, lembro de ter ouvido uma vez de um pastor falando que para entender a temática de cada um dos livros que tiveram sua autoria atribuída ao rei Salomão basta observarmos em que época da vida de Salomão supostamente eles poderiam ter sido escritos, com o livro do Cântico dos Cânticos (ou Cantares de Salomão) tendo sido escrito em sua juventude apaixonada, os Provérbios na meia-idade e o Eclesiastes já quando ele era um idoso desiludido com o mundo. Seja lá quem for o real autor a sabedoria do livro mais mal-humorado da Bíblia (Como sugerido pelo título do livro escrito pelo pr. Ed René Kivitz) é bem fascinante.


Talvez por loucura, talvez por acreditar em um chamado divino, talvez por acreditar na função social do que faço ou talvez até mesmo por tudo isso junto eu aceitei a estressante e complicada vida de um professor que quer realmente servir na transformação de vidas tanto com minha profissão quanto com atividades fora dela. Se algum colega de profissão dedicado ler este trecho das escrituras deve começar a pensar de cara que ao invés de escrito pelo Rei Salomão (o que já é descartado por boa parte dos teólogos) pudesse ter sido escrito por um professor ou ao menos alguém que conseguiu tal como Rui Barbosa traduzir nosso sentimento diário:


"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."


Normalmente a população não consegue entender o cruel sistema educacional, especialmente na rede pública de ensino (embora tirando talvez os colégios de referência a situação não esteja tão melhor assim na rede privada). Diariamente o professor é pressionado, sua autoridade é mutilada, é tratado como o lixo do lixo: Se houver uma agressão na escola cometida por um aluno logo os "iluminados" das secretarias de educação e outros órgãos INcompetentes dirão que era por falta de domínio de turma, se ele impedir uma agressão (contra o professor ou contra outro aluno) ele poderá responder criminalmente. Cobram dele um ensino de qualidade mas sem lhe dar em muitas escolas nem se quer um quadro negro, aliás falando em qualidade isso significa passar em provas pois reprovar um aluno em algumas redes é uma tarefa mais difícil do que transformar alquimicamente a palha em ouro. Enfim seriam tantas situações ridículas diárias (melhor nem falar em diárias pois os diários de classe além de serem métodos obsoletos de registro nada mais são do que um grande faz de conta pois nunca correspondem a realidade) desde o professor ser obrigado a fazer inúmeras coisas como impedir o uso de celulares em sala de aula ou garantir que os alunos fiquem em sala de aula mas ao mesmo tempo sendo proibido de fazer qualquer outra coisa a não ser implorar para que os alunos o façam (Viramos mendigos e não foi por conta do salário ultrajante).


Palavras tão verdadeiras quanto as do suposto rei Salomão só vi numa cerimônia da Ordem DeMolay chamada de cerimônia das luzes: 

"Mas nós vivemos uma época turbulenta, quando o tumulto está em nossa pátria; quando os baluartes do livro sagrado e dos livros escolares estão em perigo de afundar no turbilhão da dúvida e incerteza; quando estes sete gloriosos preceitos não são os mais cobiçados modelos sobre os quais se baseia a vida; quando a confiança, a justiça e a fraternidade não são consideradas as qualidades mais virtuosas." 

É talvez esse blog venha lavar a alma de algumas pessoas e seja conscientizador para outras... Mas se não servir como um blog terapêutico conscientizador ao menos poderá me fazer me sentir como o autor de Eclesiastes deve ter se sentido na época.