O cristianismo libertador x a sociedade "cristã"

on domingo, 2 de fevereiro de 2014
A seguinte pregação foi realizada por mim na Paróquia da Bem-Aventurada Virgem Maria (Igreja Episcopal Anglicana do Brasil) em Sulacap (Rio de Janeiro/RJ) no dia 26/01/2014:

(...)Para não tornar inútil a cruz de Cristo” (I Coríntios 1:17)

O caminho do cristão nunca foi fácil pois “O mundo jaz no maligno” (I João 5:19) e isso vale até para uma sociedade como a nossa que se diz cristã. E como seria fácil se nossas boas ações ao invés de nos trazerem a glória do mundo (como prometido pela teologia da prosperidade) nos levam para o caminho da cruz, açoitados por ingratidão e perseguições.
Com um caminhar tão difícil, a tentação de agirmos com iniquidade guiados pelos nossos impulsos mais vis nos ataca e vemos se instalar a divisão em nosso meio, o desvio de pregadores que trocaram o Espírito Santo por sua oratória e a cruz de Cristo por palavras enganar e agradar ao público, igrejas sérias sendo trocadas por instituições que aglomeram multidões em verdadeiros templos do deus dinheiro (tanto os construídos pela picaretagem religiosa quanto o construído pela sede de lucro) onde vemos diariamente um culto soberbo que abandonou o amor ao próximo, vemos até a contaminação do culto egoísta se instalando algumas vezes em instituições sérias e em nossos corações.
Se queremos ser de Deus devemos agir como estabelecido por Deus para que façamos parte de seu acordo, sua aliança, e podem acreditar que isso exige esforço. Ser cristão é sair da zona de conforto e buscar os que sofrem neste mundo, é ser comunidade de amor que se abrindo para a graça misericordiosa e santificadora de Deus enfrenta a luta para diariamente contra as suas próprias vaidades de quem aparece mais. A conversão do cristão não vai trazer apenas flores e não raro pode levar ao martírio, pois como o famoso escritor e teólogo anglicano C.S. Lewis respondeu certa vez em uma entrevista:
“Qual das religiões do mundo confere a seus seguidores maior felicidade? Enquanto dura, a religião da auto-adoração é a melhor.

Tenho um velho conhecido já com seus 80 anos de idade, que vive uma vida de inquebrantável egoísmo e auto-adoração e é, mais ou menos, lamento dizer, um dos homens mais felizes que conheço. Do ponto de vista moral, é muito difícil. Eu não estou abordando o assunto segundo esse ponto de vista. Como vocês talvez saibam, não fui sempre cristão. Não me tornei religioso em busca da felicidade. Eu sempre soube que uma garrafa de vinho do Porto me daria isso. Se você quiser uma religião que te faça feliz, eu não recomendo o cristianismo. Tenho certeza que deve haver algum produto americano no mercado que lhe será de maior utilidade, mas não tenho como lhe ajudar nisso.”
Devemos abandonar a felicidade egoísta e entender que a verdadeira alegria do cristão está no bem comum, nossa Igreja deve ser onde nosso amor nos leve ao apoio mútuo e que fiquemos ansiosos pelo dia das celebrações religiosas (celebrações do encontro com Deus na comunidade, comunhão com Deus e com o próximo), sendo capazes de dizer com sinceridade: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor” (Salmo 122:1). Sim, o culto de quem ao ver a grande luz deseja sair das trevas deve ser vivido com o coração, na certeza de que o Senhor nos ama, nos conhece, sofre conosco, sonda nosso íntimo e deseja que possamos refletir sua luz para que outros também possam ver a grande luz que é Cristo.

Que Deus nos inspire com seu Espírito Santo para fazermos mais pelos outros, em nossa Igreja e fora dela, entendendo que só o caminho da cruz é que pode nos trazer a ressurreição."
Por Morôni Azevedo de Vasconcellos

2º Domingo da Epifania – Ano A
Amós 3:1-8
Salmo 139:1-7
I Coríntios 1:10-17
Mateus 4:12-23


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