Ariano Suassuna e seu legado político...

on quinta-feira, 24 de julho de 2014

Após a morte de Nelson Mandela, outro grande ícono do socialismo (especialmente o democrático) falece... Ariano Suassuna, presidente de honra do PSB, foi um socialista raro no Brasil... Averso ao marxismo e com tendências para a esquerda monárquica (sonhava com o avô e mentor político do candidato Eduardo Campos, Miguel Arraes, ocupando o cargo de primeiro- ministro), coisas comuns nos socialistas europeus e raras nos brasileiros, foi um crítico tanto de governos capitalistas quanto foi de algumas experiências socialistas... Um visionário sem dúvidas, que previu o fim da URSS... Destaco uma parte de uma entrevista que deu certa vez para a Folha de S. Paulo:

"Folha - O sr. critica os Estados Unidos mas, no entanto, não se alinha ou não se alinhava também com o extinto Partido Comunista.

Suassuna - Não, não, não. Também sempre disse que iam terminar aliados. Tenho um artigo de 1974 em que eu já dizia: vão se aliar. Vão terminar se aliando os Estados Unidos e a União Soviética e vão formar uma aliança de rico contra pobre. E é o que está acontecendo. Viu agora na guerra do Golfo? Quer dizer, se aliaram todos os ricos contra um país deste tamanho do Terceiro Mundo. E a luta agora é essa. É a luta das metrópoles contra as aldeias. As aldeias são o Terceiro Mundo. Você não se iluda não porque vai ser assim. E, outra coisa, eu sempre fui socialista. Eu pertenço ao Partido Socialista Brasileiro. Entrei no partido porque hoje eu acho que tenho condições de ser socialista.

Folha - Mas quando o sr. escreveu "A Pedra do Reino" o sr. era um monarquista?

Suassuna - É verdade. Mas eu vou concluir o que eu estava dizendo: que sempre fui socialista, mas sempre tive horror ao marxismo. Eu acho o marxismo um pensamento estreito, castrador. Eu não me entendia com os comunistas brasileiros porque achava que eles agiam com faca de dois gumes, com pau de dois bicos. Quando eu denunciava o imperialismo americano e me batia contra a exploração americana no Brasil e coisa, eles batiam palma para mim. Mas quando eu dizia que o stalinismo era uma ditadura horrorosa, assassina, era considerado vendido aos americanos, a Wall Street. Eu sempre denunciei as duas coisas. Depois vem a abertura de Gorbatchev. Quando vi Gorbatchev criticando os Estados Unidos, fiquei entusiasmado, porque pensei que ele ia buscar uma nova forma de socialismo. Mas ele está se vendendo ao capitalismo, ele está se entregando ao capitalismo de mão beijada."

http://almanaque.folha.uol.com.br/leituras_16jun00.htm

Muito além de seu legado político não podemos esquecer de sua obra literária, se bem que não dá para negar que o Auto da Compadecida é repleto de uma visão cristã e socialista do mundo e suas mazelas...

Veja a homenagem deixada pelo PSB para o seu presidente de honra:
http://www.psb40.org.br/not_det.asp?det=5649


Descanse em paz meu companheiro, que nós socialistas possamos continuar o seu legado...
 

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